19 janeiro 2010

Os grandes jogos da década: Princes of Renaissance

Se você, amigo leitor, é daqueles que só agora despertou para o hobby e anda para aí, feito rafeiro, a vadiar pelos blogues nacionais à cata de informação importante para sustentar uma futura compra, certamente já se deu conta que existe um nome que é bastante falado e quase todos lhe prestam homenagem, nós incluídos. Estou a escrever sobre Martin Wallace, um inglês que tem fama de arruaceiro e de beber mais do que a conta mas, quando se entrega de corpo e alma à sua profissão, é capaz do melhor e, se calhar, na maior parte das vezes, do pior.
Polémicas à parte, Martin Wallace tem impressos no seu currículo títulos francamente obrigatórios e que fazem, felizmente para nós, parte da história dos jogos de tabuleiro. Falo de Age of Steam, Liberté, Struggle of Empires e, mais recentemente, Brass. Se for um macho atento, poderá estranhar a ausência de Automobile, jogo bastante aplaudido pelos nossos colegas de opinanço. Bem, é que apesar de lhe conseguir entender os méritos, não o acho nada de extraordinário. Mas isso é o meu gosto e como toda a gente que me conhece pode afiançar, não é mesmo nada de fiar.
Propositadamente deixei o meu preferido para o fim. Princes of Renaissance. É um jogo passado no renascimento e que tem como pano de fundo a luta das grandes famílias italianas pelo poder político, comercial e militar. PoR tem muitos leilões. Isto por si só pode afastar a curiosidade de muitos dos jogadores, mas este é talvez o leilão que mais está carregado de bluff dos jogos de tabuleiro que conheço. A ideia do jogo é esta: Controlamos uma família que tem interesses em várias cidades italianas. Para fomentar esse poder, vamos comprando “tiles” dessas cidades que nos dão pequenas regalias que podem ser utilizadas no futuro. Onde reside o gozo é que o valor das “tiles” varia conforme a fama das cidades. Ou seja, se eu comprar uma “tile” de Milão e Milão estiver pelas ruas da amargura o preço é, portanto, baixo. Por outro lado, se Milão estiver em alta, então terei de pagar pela “tile” muito mais. A fama e o preço que cada cidade vale é definida pelas sua prestação nas guerras. Estas batalhas acontecem quando forçadas pelos jogadores. A cidade que ganha sobe, a que perde desce. Acrescento ainda que os jogadores vão leiloar também a hipótese de colocarem o exército que possuem a lutar pela cidade que quiserem. Pode parecer estranho, mas uma cidade pode ser defendida por um jogador sem qualquer interesse nela. A explicação é contudo simples, defender a honra duma metrópole é trabalho pago a peso de ouro e, como todos os jogos deste inglês, dinheiro é coisa que não abunda. E se há jogo onde o dinheiro é contado ao cêntimo é este. O jogador é, neste contexto, apenas um mercenário cujo único objectivo é que as cidades onde comprou tiles sejam as mais valiosas no final da partida. Lutar dá pontos e força alterações no valor das cidades. Isto pode parecer esquisito e, de facto, é. A ideia é muito bem sacada e é quase como se estivéssemos a jogar na bolsa. Há especulação e bluff a jorrar por todos os lados mas todos os jogadores têm o objectivo de comprar baixo para depois fazer subir o valor do que se comprou através das armas.
Não é um jogo simples e na primeira experiência não se percebe nada do que se passou. É muito difícil dar valor às coisas e tudo é construído através da especulação e do bluff. De jogar chorar por mais.
Escusa de ir consultar o seu saldo. O jogo está Out of Print.


2 comentários:

zorg disse...

Out of print e relativamente raro. Já não jogamos isto há algum tempo, mas essa é uma falha que vamos corrigir em breve! :)

É excelente! Um dos melhores do wallace e um dos melhores jogos de negociação que existe por aí...

vch disse...

Então diz qualquer coisa quando abrires isso ;-)